Entre os humanos são eles que possuem a maior facilidade para aprender línguas, mesmo sem conseguir formar uma frase. A linguista e psicóloga Angela Friederici explica a genialidade linguística dos recém-nascidos.
Recém-nascidos — e somente eles — podem aprender qualquer língua do mundo. Um potencial que desaparece e deve ser aproveitado por pais e educadores antes que os bebês aprendam sua língua materna.
Isto é o que afirma Angela Friederici, linguista e diretora do Departamento de Neuropsicologia do Instituto Max Planck de Neurociências Cognitivas em Leipzig.
“Os bebês dividem em duas categorias tudo aquilo que papai, mamãe, titio e titia lhes falam: na primeira entra aquilo que eles sempre escutam, na segunda vai o resto”, afirma a especialista. Cada língua possui uma melodia característica ou, em uma linguagem mais científica, uma prosódia, ou seja, o francês soa bem diferente do russo. Mas a partir de quando os bebês conseguem fazer esta distinção?
Gênios já aos quatro dias
“Já a partir dos quatro dias de vida, os bebês conseguem fazer esta distinção, o que ficou demonstrado em um teste chamado de ‘experimento chupeta’. Quando estão desinteressados, eles diminuem o ritmo de como chupam sua chupeta. Ao escutar a entoação prosódica de uma outra língua, eles o aumentam. Isto demonstra que as crianças conseguem distinguir informações acústicas”, comenta Friederici.
A cientista explica que os bebês se interessam somente pelo novo, pelo desconhecido, mas o que fica é somente aquilo que lhes é sempre repetido, ou seja, os sons de sua língua materna. O resto já foi reprimido e esquecido logo no primeiro ano de idade.
Quem quiser aproveitar este potencial do bebê, afirma Friederici, deve começar a lhe falar em várias línguas desde seu primeiro dia de nascido. Entretanto, cada língua deve ser falada sempre pela mesma pessoa, assim a criança poderá aprender dois ou mais idiomas sem grandes esforços.
Esperar pela alfabetização pode ser tarde
Segundo a pesquisadora do Instituto Max Planck, esperar que as crianças entrem na escola para o aprendizado de línguas pode ser muito tarde. “Existem pessoas que afirmam que somente se pode ser completamente bilíngue se as línguas tiverem sido aprendidas até os seis anos de idade. Quanto mais avançada a idade, mais difícil é para as crianças aplicarem corretamente os parâmetros prosódicos e fonológicos”, explica Angela.
Todo aquele que não cresceu com várias línguas sabe que basta abrir a boca para ser identificado como alguém de origem estrangeira. Claro que há pessoas que falam uma língua estrangeira como se tivesse crescido com ela, mas são casos excepcionais. Os sons de uma outra língua são estranhos e sua melodia, uma arte. Além disso, faltam ao falante vocabulário e as sutilezas gramaticais.
Friederici explica que é justamente a gramática o que o cérebro primeiramente analisa quando se escuta uma frase, e não o significado das palavras. Isso já foi constatado há muitos anos pela cientista em seus estudos, que lhe garantiram o renomado Prêmio Leibniz da Sociedade Alemã de Pesquisa (DFG) há nove anos.
Resultado do estudo Pisa impulsionou discussões linguísticas
Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) impulsionaram as discussões em torno do aprendizado de idiomas, que começa de maneira geral no ensino fundamental. A tendência agora na maioria dos países da União Europeia é inserir uma língua estrangeira também no ensino de outras matérias.
Ou seja, os alunos aprendem francês, por exemplo, não somente na aula de francês mas também na aula de História ou Geografia. Além disso, quem começa o aprendizado de um novo idioma quando adulto tem que aprender com maior rapidez a se comunicar de forma mais complexa do que somente “eu me chamo”, “eu moro na” ou “tchau”, afirma Angela Friederici.
Via Deutsche Welle