Na Academia de Intérpretes das Forças Armadas da Suécia, jovens recrutas aprendem um novo idioma em um ritmo super intensivo. Ao examinar seus cérebros antes e depois do treinamento de idiomas, um grupo de pesquisadores teve a oportunidade de observar o que acontece com o cérebro quando aprendemos um novo idioma em um curto período de tempo, após três meses de aulas intensivas, determinadas áreas do cérebro crescem.

Pesquisadores da Universidade de Lund, de Uppsala, na Suécia, descobriram que determinadas partes do cérebro crescem quando nos empenhamos em aprender uma nova língua em um curto espaço de tempo. O resultado foi publicado no jornal NeuroImage.

Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores compararam os resultados do grupo de recrutas com o resultado de exames em um grupo de 17 estudantes de medicina e ciências cognitivas da Universidade de Umeå — estudantes que também possuem uma rotina intensa de estudos, mas não focada em idiomas.

Os pesquisadores selecionaram 14 estudantes da Academia de Intérpretes das Forças Armadas da Suécia. Estes jovens foram submetidos a uma rotina superintensiva para aprenderem, em apenas 3 meses, a falar fluentemente russo, árabe ou dari (dialeto persa usado no Afeganistão). Nenhum deles tinha qualquer conhecimento prévio da língua estudada e, para dar conta do objetivo, mergulharam numa rotina que envolve aulas diárias de manhã até à noite, durante a semana e fins de semana.

Ambos os grupos foram submetidos a exames de ressonância magnética antes e após um período de três meses de estudo intensivo. Enquanto a estrutura cerebral do grupo de estudantes de medicina permaneceu inalterada, partes específicas do cérebro dos estudantes de línguas cresceram. As partes que se desenvolveram em tamanho foram o hipocampo, uma estrutura cerebral profunda envolvida no processo de aprendizagem e outras três áreas do córtex cerebral.

“Ficamos surpresos com o fato de diferentes partes do cérebro se desenvolverem em diferentes graus, dependendo do desempenho dos alunos e do esforço que eles tiveram para manter o estudo”, diz Johan Mårtensson, pesquisador em psicologia da Universidade de Lund, Suécia.

Os estudantes com maior crescimento no hipocampo e áreas do córtex cerebral relacionados ao aprendizado de idiomas (giro temporal superior) apresentaram melhores habilidades de linguagem do que os outros estudantes. Nos estudantes que tiveram que se esforçar mais para aprender, observou-se um crescimento maior em uma área da região motora do córtex cerebral (giro frontal médio).

As áreas do cérebro nas quais as mudanças ocorrem estão, portanto, ligadas à facilidade com que se aprende uma língua, e este desenvolvimento varia de acordo com o desempenho de cada indivíduo.

“Os jovens recrutas estudaram numa intensidade incomparável a qualquer outro curso do sistema educacional sueco”, escrevem os autores. “A extrema rigidez do curso requer o aprendizado de 300 a 500 novas palavras por semana”, completa Johan Mårtensson, coordenador da pesquisa.

Pesquisas anteriores de outros grupos indicaram que a doença de Alzheimer ocorre mais tarde em grupos bilíngues ou multilíngues.

“Mesmo que não possamos comparar três meses de estudo intensivo de idiomas com uma vida inteira bilíngue, há muito a sugerir que o aprendizado de idiomas é uma boa maneira de manter o cérebro em forma”, diz Johan Mårtensson.


Fonte: How learning a language benefits your brain (em inglês)

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