A Língua Geral, no contexto do Brasil Colonial, teve um peso enorme, pois foi a partir dela que jesuítas e bandeirantes conseguiram comunicar-se com os índios do interior da colônia.

Poucas pessoas sabem que muitas das expressões e pronúncias que, atualmente, são chamadas de caipiras são, na verdade, derivadas da Língua Geral, que já foi o idioma mais falado pelos brasileiros. Mas o que era essa língua?

Lingua Geral ou Lingua Franca é uma expressão latina para língua de contato ou língua de relação resultante do contato e comunicação entre grupos ou membros de grupos linguísticos distintos para o comércio internacional e outras interações mais extensas. Foi uma língua falada no Brasil do final do século XVII até o início do século XX e que se dividia em dois ramos:

  • Língua geral setentrional, também chamada língua geral amazônica e língua geral do norte
  • Língua geral meridional, também chamada língua geral paulista e língua geral do sul, mais abrangente

Língua Geral setentrional

A língua geral setentrional (língua geral do norte e língua geral amazônica), era o ramo nortista da língua geral, sendo falado na Região norte do Brasil. Formou-se a partir da evolução histórica da língua tupi no final do século XVII. No século XIX, pelo mesmo processo de evolução histórica, deu origem ao nheengatu. Hoje, é considerado uma língua extinta. Como influência na toponímia brasileira atual, a língua geral setentrional legou muitos topônimos brasileiros atuais, tais como: Amapá, Aracu, Araguaia, Aranaí, Aranaquara, Aranaú etc.

Língua Geral meridicional

A língua geral paulista era uma língua crioula formada à época dos bandeirantes paulistas no Brasil Colônia. Hoje, tem apenas interesse histórico, pois, desde o início do século XX, está totalmente extinta. Constituía-se no ramo sulista da língua geral. É dela que derivam várias palavras e pronúncias caipiras.

Como influência na toponímia brasileira atual, a língua geral meridional legou muitos topônimos brasileiros atuais, tais como: Aricanduva, Baquirivu-Guaçu, Batovi, Batuquara, Bicuíba, Biriricas etc.

Originária da língua tupi falada pelos índios tupinambás localizados nas regiões paulistas da Região do Alto Tietê e São Vicente, passou a ser falada pelos bandeirantes a partir do final do século XVII, disseminando-se rapidamente por boa parte do Brasil. Dessa forma, tal idioma tornou-se corrente em locais onde esses tupinambás jamais estiveram, influenciando, dessa maneira, o modo de falar dos brasileiros de hoje.

No tempo colonial, tornou-se a língua mais falada na porção meridional do Brasil, em muitos casos sendo necessário um intérprete entre a autoridade colonial portuguesa e o povo. Em fins do século XVIII, a coroa portuguesa, sob a gestão do Marquês de Pombal, proibiu o seu uso, punindo severamente quem a utilizasse, impondo-se, a partir de então, o idioma português no Brasil. No entanto, a língua geral meridional somente desapareceu totalmente no início do século XX.

Desenvolvimento

A Língua Geral foi desenvolvida pelos jesuítas nos séculos XVI e XVII, com base no vocabulário e na pronúncia tupi, que era a língua das tribos da costa, tendo como referência a gramática da língua portuguesa, enriquecida com palavras portuguesas e espanholas. A língua geral foi usada correntemente pelos brasileiros de origem ibérica, como língua de conversação cotidiana, até o século XVIII, quando foi proibida pelo rei de Portugal, mesmo assim continuou sendo falada.

Da língua geral ficou como remanescente o dialeto caipira, tema de dicionário e objeto de estudos linguísticos até recentes. Sobraram pronúncias da língua tupi, reduções e adaptações da língua portuguesa. Um jesuíta, no século XVI, já observara que os índios da costa tinham grande dificuldade para pronunciar letras como o “l” e o “r”. Especialmente na finalização de palavras como “quintal” e “animal”; ou verbos como “falar”, “dizer” e “fugir”. Essas letras foram simplesmente suprimidas e as palavras transformadas em “quintá”, “animá”, “falá”, “dizê”, “fugi”.

Também tinham dificuldades para pronunciar as consoantes dobradas. Daí que, no dialeto caipira, “orelha” tenha se tornado “orêia” (uma consoante em vez de três; quatro vogais em vez de três), “coalho” seja “coaio”, “colher” tenha virado “cuié”, “os olhos” sejam “o zóio”…

E no Nordeste ainda se ouve a suave “fulô” no lugar da menos suave “flor”. Uma abundância de vogais em detrimento das consoantes, até mesmo com a introdução de vogais onde não existiam. Exatamente o contrário da evolução da sonoridade da língua em Portugal, em que predominam os ásperos sons das consoantes. No Brasil, a língua portuguesa ficou mais doce e mais lenta, mais descansada, justamente pela enorme influência das sonoridades da língua geral.

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