A língua mirandesa, conhecida localmente como lhéngua mirandesa ou mirandés, é um dos tesouros linguísticos de Portugal, representando oficialmente a variante do asturo-leonês falada no território português, especialmente na região de Miranda do Douro e algumas freguesias do concelho de Vimioso.

O mirandês tem raízes profundas, remontando ao latim vulgar trazido pelos romanos e desenvolvendo-se entre os séculos VI e VIII, integrando a família das línguas astur-leonesas. Durante séculos, foi uma língua predominantemente oral, com as primeiras tentativas de fixação escrita apenas no século XIX, por José Leite de Vasconcelos. Em 1999, a língua mirandesa foi reconhecida oficialmente como segunda língua de Portugal, com estatuto de cooficialidade no concelho de Miranda do Douro.

Distribuição e falantes

Hoje, o mirandês é falado por cerca de 3.000 pessoas regularmente, e outras 1.500 conhece a língua e podem falar se quiserem. A maioria dos falantes está concentrada numa área de 550 km², chamada Terra de Miranda, que inclui Miranda do Douro e partes de Vimioso. O número de falantes tem diminuído rapidamente, colocando a língua em risco crítico de extinção nas próximas décadas caso não haja uma inversão na tendência atual.

Características linguísticas

O mirandês distingue-se do português e do castelhano por várias características fonéticas, morfológicas e lexicais:

  • Fonologia: Palatização do ‘l’ inicial (ex: lhéngua para “língua”), manutenção de f- inicial latino, evolução de grupos latinos como -ct- em -it- (ex: nocte → noite), e conservação de ditongos como ei e ou.
  • Gramática: Uso de artigos definidos próprios (llalslas), pronomes pessoais e possessivos distintos (ex: you para “eu”, miu para “meu”). O sistema verbal é semelhante ao português, mas com conjugação específica e uso do infinitivo pessoal.
  • Vocabulário: Muitas palavras têm gênero diferente do português (ex: la calorl febre), e há advérbios e locuções inexistentes em português. O léxico mostra influência do português, castelhano e até galego devido ao contato entre fronteiras.
  • Dialetos: O mirandês apresenta três subdialetos: central (normal), setentrional (raiano) e meridional (sendinês).

Situação sociolinguística e desafios

O mirandês vive uma situação de diglossia, coexistindo com o português, que possui maior prestígio e difusão. A transmissão intergeracional foi interrompida, especialmente entre as gerações nascidas após 1960, devido à influência dos meios de comunicação e do sistema educativo em português. Atualmente, menos de 2% dos jovens com menos de 18 anos usam o mirandês, restringindo-se o uso à esfera familiar e a algumas aldeias.

O estigma social, associando o mirandês à ruralidade e à pobreza, contribuiu para o seu desprestígio e abandono, agravado pela falta de políticas públicas eficazes para sua revitalização. Apesar disso, iniciativas locais, como o ensino opcional da língua e a publicação de obras literárias em mirandês, têm ajudado a manter viva esta herança cultural.

Importância cultural e perspectivas futuras

A língua mirandesa é símbolo de identidade para os habitantes da Terra de Miranda e representa uma ponte para o patrimônio das línguas românicas. Seu conhecimento favorece o desenvolvimento intelectual e a valorização da diversidade cultural. O futuro do mirandês depende da mobilização dos seus falantes, do apoio institucional e da promoção junto às novas gerações, para que não se torne apenas uma língua cerimonial, mas continue sendo “língua para viver”.

“A este ritmo, este idioma desaparece em menos de 20 anos”, aponta o pesquisador Xosé-Henrique Costas, alertando para a urgência de medidas efetivas de proteção e valorização do mirandês.

Em suma, a língua mirandesa é um patrimônio vivo, mas ameaçado. Sua preservação é um desafio coletivo que exige reconhecimento, investimento e orgulho cultural.

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