Você já se surpreendeu ao perceber como o espanhol pode soar diferente ao atravessar fronteiras? Esta variação não é apenas uma questão de sotaque; a língua espanhola se transforma de maneira fascinante entre a Espanha e os países da América Latina, refletindo a riqueza cultural de cada região. Similar à adaptação da língua portuguesa às realidades culturais do Brasil e de Portugal, que resulta em duas variantes distintas e ricas, o espanhol se revela por expressões, pronúncias e usos gramaticais únicos.

Tais diferenças linguísticas vão além de simples resquícios da colonização espanhola; elas evidenciam as ricas interações entre colonizadores e as inúmeras culturas indígenas da América. A língua oficial compartilhada pela Espanha e pela maioria dos países latino-americanos, o castellano, manifesta-se de forma diversa em cada região, cada uma com suas peculiaridades, moldadas por histórias e diversidades locais que refletem distintos aspectos da sociedade.

Dada a vastidão do tema, seria impraticável abordar todas as nuances do espanhol falado nas diversas regiões. Portanto, este artigo concentrar-se-á em algumas das diferenças mais marcantes e intrigantes. Compreender essas peculiaridades não só enriquece sua apreensão do idioma como também o equipa para imergir com confiança na sua rica diversidade.

Convidamos você a juntar-se a nós nesta jornada, explorando as sutilezas que tornam o espanhol uma língua tão variada e cativante. Desde a pronúncia característica das ruas de Madrid até o vocabulário singular das praias do Caribe, cada variação tem uma história para contar e um mundo para desvendar.

Espanhol europeu e espanhol latino: quais as diferenças?

Embora compartilhem a mesma raiz linguística, o espanhol europeu e o espanhol latino-americano exibem diferenças notáveis que transcendem a questão do sotaque. Essas variantes do espanhol refletem não apenas as divergências geográficas, mas também as influências culturais, históricas e sociais que cada região experimentou. Desde variações no vocabulário e na gramática até nuances na pronúncia e no uso de formas verbais, explorar essas diferenças nos permite entender como uma língua pode se adaptar e evoluir em contextos distintos.

Vamos desvendar algumas das principais características que distinguem o espanhol falado na Europa daquele falado na América Latina, enfocando em particular nas diferenças de vocabulário e nas particularidades fonéticas e gramaticais.

Diferenças de vocabulário

Começaremos explorando as diferenças de vocabulário, evidenciando como termos cotidianos podem variar dramaticamente entre as duas regiões, muitas vezes resultando em palavras completamente distintas para o mesmo objeto ou conceito. A seguir uma pequena lista de palavras diferentes entre vários países de língua espanhola:

Saia – Falda (Espanha, Chile, México, Uruguai, Venezuela), Pollera (Chile, Argentina, Uruguai);

Camiseta – Camiseta (Espanha, México, Uruguai), Remera (Argentina, Uruguai), Chomba (Argentina), Polera (Chile), Franela (Venezuela), Buzo (Uruguai);

Calcinhas – Bragas (Espanha), Bombachas (Argentina, Uruguai), Calzones (Chile, México), Pantaletas (México, Venezuela), Blumer (Venezuela)

Sutiã – Sostén (Espanha, Chile, Uruguai, Venezuela), Corpiño (Argentina, Uruguai), Sutién (Argentina, Uruguai), Soutién (Argentina, Uruguai), Brassiere (México, Venezuela), Brassier ou Brasier (México), Sujetador (Espanha)

Jaqueta (de frio) – Cazadora (Espanha), Campera (Argentina, Uruguai), Casaca (Chile), Chamarra (México), Chaqueta (Venezuela)

Bife – Filete (Espanha), Bife (Argentina, Uruguai), Bistec (Espanha, Chile, México, Venezuela), Beaf-steak (Chile), Churrasco (Uruguai)

Manteiga – Mantequilla (Espanha, Chile, México, Venezuela), Manteca (Argentina, Uruguai)

Pão de forma – Pan de molde (Espanha, Chile, Uruguai), Pan de miga (Argentina), Pan bimbo (México), Pan cuadrado (Venezuela)

Calçada – Acera (Espanha), Vereda (Argentina), Banqueta (México)

Carro / Automóvel – Coche (Espanha), Auto ou Carro (América Latina)

Pêssego – Melocotón (Espanha, Venezuela), Durazno (Argentina, Uruguai, Chile, México, Venezuela)

Banana – Plátano (Espanha, Chile, México), Banana (Argentina, Uruguai), Cambur (Venezuela)

Ônibus – Autobús (Espanha), Bus (Colômbia), Camión (México), Guagua (Porto Rico, Rep. Dominicana, Cuba), Colectivo (Argentina), Liebre (Chile)

Caneta – Bolígrafo, Boli (Espanha), Pluma (México), Esfero (Colômbia), Lapicera (Argentina)

Computador – Ordenador (Espanha), Computadora (América Latina)

Morango – Fresa (Espanha, México, Venezuela), Frutilla (Argentina, Chile, Uruguai)

Mamão – Papaya (Espanha, Chile, México, Uruguai), Mamón (Argentina), Lechosa (Venezuela)

Suco – Zumo (Espanha), Jugo (Argentina, Chile, México, Uruguai, Venezuela)

Feijão – Judía (Espanha), Alubía (Espanha), Habichuelas (Espanha), Poroto (Argentina, Chile, Uruguai), Frijol (México), Caraota (Venezuela)

Lavabo – Lavabo (Espanha), Lavatorio (Chile, Argentina), Lavamanos (Venezuela, México)

Cachorro-quente – Perrito caliente (Espanha), Hotdog (Chile, México), Pancho (Argentina), Perro caliente (Venezuela)

Piscina – Piscina (Espanha), Alberca (México), Pileta (Argentina)

Panela – Puchero (Espanha), Olla (América Latina)

Bicicleta – Chancha (Chile), Bicla (México), Bici (Argentina), Chibo (Cuba).

Milho – Maíz (Espanha), Choclo (Argentina, Chile, Uruguai), Elote (México), Jojoto (Venezuela)

Diferenças fonéticas

As diferenças fonéticas entre o espanhol europeu e o latino-americano são marcantes e variam conforme a região. Por exemplo, a maneira como as letras “LL” e “Y” são pronunciadas muda significativamente: na Espanha, soa mais como o “LH” do português brasileiro, enquanto na Argentina e Uruguai, aproxima-se do som de “J”.

Além disso, o fenômeno do seseo, comum na América Latina, onde não se distingue o som de “s” e “c” antes de “e” ou “i”, contrasta com o ceceo e o distincionismo encontrados em diferentes partes da Espanha. Essas variações, embora evidentes, não comprometem a comunicação entre os falantes. A seguir, detalhamos como essas diferenças fonéticas se apresentam.

Pronúncia de “LL” e “Y”

A pronúncia de “LL” e “Y” difere entre o espanhol europeu e o latino-americano. Na Espanha, “LL” é frequentemente pronunciada de uma forma similar ao “LH” do português brasileiro, embora essa característica varie de acordo com a região, com alguns lugares adotando uma pronúncia mais próxima ao “Y”. Na Argentina e Uruguai, predomina o “yeísmo rehilado”, onde “LL” e “Y” são pronunciadas com um som semelhante a um “J” suave. Em outras regiões da América Latina, a pronúncia dessas letras tende a se assemelhar mais ao “Y”.

Um exemplo claro dessa variação é a palavra “paella”, , aquele prato típico da região de Valencia, na Espanha. Na Espanha, a pronúncia de “LL” tende a se assemelhar ao “LH” em português, resultando em algo como /paelha/. Contudo, é importante notar que a Espanha abriga uma ampla variedade linguística. Em certas regiões da Espanha, por exemplo, é possível ouvir a palavra sendo pronunciada com um som de /paedja/.

Em contraste, na maior parte da América do Sul e no México, a pronúncia de “paella” inclina-se para /paêia/, mantendo o som de “i”. Na Argentina e no Uruguai, porém, a pronúncia se distingue significativamente, podendo variar para /paesha/, /paedja/ ou /paetcha/, utilizando os sons “SH”, “DJ”, ou “TCH”.

Espanha: Paella (/paelha/)

Maioria dos países da América do Sul e México: Paella (/paêia/)

Argentina e Uruguai: paella (/paedja/), (/paesha/) e (/paetcha/)

Seseo e Ceceo

Quanto ao “seseo” e “ceceo”, observamos que na maioria dos países de língua espanhola não se faz distinção entre o som de “S” e de “C” antes de “I” ou “E”, ou de “Z”, característica conhecida como “seseo”. Isso significa que palavras como “casa” (casa), “cero” (zero) e “zapato” (sapato) são pronunciadas com o som claro de “S”, independentemente de sua ortografia.

No entanto, em algumas partes da Espanha, especialmente na Andaluzia, ocorre o “ceceo”, no qual “C” (antes de “I” ou “E”) e “Z” são pronunciados de uma maneira distinta, semelhante “TH” do inglês, como em “thin” ou “thanks”. Assim, palavras como “cero” e “zapato” podem soar como “thero” e “thapato”, podemos dizer que “você morde a língua para falar”.

Espanha

América Latina

Diferenças gramaticais

As diferenças entre as variantes do espanhol não se limitam apenas à pronúncia; elas se estendem também ao terreno da gramática. Desde o uso de tempos verbais até pronomes pessoais e formas de tratamento, o espanhol apresenta nuances que podem variar significativamente de um país para outro. Vamos explorar agora algumas dessas distinções gramaticais, destacando como elas se manifestam em diferentes partes do mundo hispânico.

Espanha

No espanhol da Espanha, uma característica e elemento distintivo em comparação com o espanhol falado em outros países é o uso do pronome “vosotros” para a segunda pessoa do plural. Esse uso não se limita apenas à escolha do pronome, mas estende-se também às formas verbais correspondentes, marcando uma diferença significativa na conjugação dos verbos.

Em contraste, nos países latino-americanos, a forma “vosotros” é praticamente ausente ou raramente usada. Ao invés disso, adota-se “ustedes” para indicar a segunda pessoa do plural em todas as situações, sejam elas formais ou informais. Esta substituição por “ustedes” altera as formas verbais utilizadas. Curiosamente, na Argentina usa-se o pronome de tratamento “vos” na segunda pessoa do singular, porém, utiliza-se o “ustedes” para a segunda pessoa do plural.

México e América Central

No México e em toda a América Central, a presença contínua de populações indígenas tem um impacto notável na cultura e, por extensão, na língua espanhola falada nessa região. As civilizações pré-colombianas, apesar de severamente afetadas pela colonização, deixaram um legado duradouro que ainda permeia muitos aspectos da vida contemporânea, incluindo a linguagem.

Essa herança histórica e cultural confere ao espanhol mexicano, bem como às variantes faladas nos países da América Central, características distintas. Uma delas é um ritmo de fala que pode ser percebido como mais “rápido” por falantes de outras variantes do espanhol. Esse traço se deve, em parte, à influência linguística das línguas indígenas, que possuem estruturas e ritmos próprios, e que foram integradas de diversas formas ao espanhol falado nessas regiões.

A vasta extensão territorial ocupada pelos povos pré-colombianos, que se estendia até a região que hoje conhecemos como Panamá, ajuda a explicar a abrangência dessa influência no espanhol da América Central, criando uma ponte linguística e cultural que une esses países por meio de suas raízes compartilhadas.

Caribe

No Caribe, o espanhol possui características únicas que se diferenciam em comparação com outras variantes da língua. Uma das principais influências na formação do espanhol caribenho vem das populações negras que foram trazidas para a região durante o período colonial, como parte do tráfico de escravizados. A região servia como uma espécie de entreposto comercial por onde passavam escravos vindos do continente africano.

Os territórios caribenhos funcionavam como centros de comércio de escravos, onde pessoas capturadas de diversas etnias africanas eram forçadas a conviver. Os colonizadores, visando dificultar a comunicação entre os escravizados para prevenir fugas ou insurreições, frequentemente agrupavam indivíduos de línguas e culturas distintas. Esta prática resultou em uma mescla linguística e cultural.

Como consequência, em países como Cuba, República Dominicana e Porto Rico, o espanhol falado hoje carrega uma influência africana pronunciada, não apenas no vocabulário, mas também no ritmo, entonação e sotaque. Esse “sotaque africano” é uma das marcas registradas do espanhol caribenho, refletindo a história complexa e multifacetada da região.

América do Sul

Ainda que compartilhem a língua espanhola como base comum, os países sul-americanos apresentam nuances interessantes e algumas particularidades que distinguem suas variantes do idioma.

Na Venezuela, o espanhol falado em sua capital Caracas mantém um caráter bastante tradicional e “puro”, o que é referido como “castellano”. No entanto, é importante notar a rica diversidade de sotaques encontrada nas várias regiões do país.

O Chile é notório por seu uso extensivo de gírias e expressões idiomáticas, o que pode tornar a compreensão do espanhol chileno particularmente desafiadora para falantes não nativos ou mesmo para falantes de espanhol de outras regiões. A pronúncia única da letra “y” e o uso específico do “voseo” são características marcantes.

Já as regiões do Rio da Prata (Argentina, Uruguai e Paraguai) é conhecida por suas características linguísticas distintas, como a pronúncia do “y” e do “ll” com um som que se aproxima do “sh” ou “zh” em inglês, um fenômeno conhecido como “yeísmo rehilado”. A letra “y” de palavras como “yo” (eu) ou “desayuno” (café da manhã) tem nessas regiões um som mais próximo do nosso “x”.

Além disso, a Argentina é particularmente conhecida pelo uso do “voseo”, substituindo o “tu” pelo “vos” na segunda pessoa do singular, acompanhado de uma conjugação verbal própria. A aspiração do “s” em certas posições, como antes de um “t”, também é um traço característico do espanhol argentino.


Fontes: Estudar Fora

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