“A vírgula, essa porta giratória do pensamento” disse certa vez um poeta. Alguns a empregam onde não deveriam, outros deixam de empregá-la onde era necessária. A tão importante vírgula pode mudar uma ideia e pode dar ou o tirar sentido de uma frase.

“Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de quatro à sua procura”.

Onde você colocaria a vírgula na frase acima? Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de “mulher”. Se você for homem, colocou a vírgula depois de “tem”.

A vírgula pode ser uma pausa… ou não.

Não, espere.
Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro.

23,4.
2,34.

Pode ser autoritária.

Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.

Pode criar heróis.

Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

E vilões.

Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.

Ela pode ser a solução.

Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.

Não queremos saber.
Não, queremos saber.

Uma vírgula muda tudo.

Já que todos são contra eu não sou a favor.
Já que todos são contra, eu não, sou a favor.

Regras de uso da vírgula

Use a vírgula para separar elementos que você poderia listar

João Maria Ricardo Pedro e Augusto foram almoçar. Note que os nomes das pessoas poderiam ser separados em uma lista:

Foram almoçar:
João
Maria
Ricardo
Pedro
Augusto

Isso significa que devem ser separados por vírgula na frase original: João, Maria, Ricardo, Pedro e Augusto foram almoçar.

Note que antes de “e Augusto” não vai vírgula. Como regra geral, não se usa vírgula antes de “e”. Há um caso específico que explicamos daqui a pouco. Um outro exemplo:

“A sua fronte, a sua boca, o seu riso, as suas lágrimas, enchem-lhe a voz de formas e de cores…”(Teixeira de Pascoaes)

Use a vírgula para separar explicações que estão no meio da frase

Explicações que interrompem a frase são mudanças de pensamento e devem ser separadas por vírgula. Exemplos:

  • “Mário, o moço que traz o pão, não veio hoje”.

Dá-se uma explicação sobre quem é Mário. Se tivéssemos que classificar sintaticamente o trecho, seria um aposto.

  • “Eu e você, que somos amigos, não devemos brigar”.

O trecho destacado explica algo sobre “Eu e você”, portanto deve vir entre vírgulas. A classificação do trecho seria oração adjetiva explicativa.

Use a vírgula para separar o lugar, o tempo ou o modo que vier no início da frase

Quando um tipo específico de expressão — aquela que indica tempo, lugar, modo e outros — iniciar a frase, usa-se vírgula. Em outras palavras, separa-se o adjunto adverbial antecipado. Exemplos:

  • “Lá fora, o sol está de rachar!”

“Lá fora” é uma expressão que indica “lugar”. Um adjunto adverbial de lugar.

  • “Semana passada, todos vieram jantar aqui em casa”.

“Semana passada” indica tempo. Adjunto adverbial de tempo.

  • “De um modo geral, não gostamos de pessoas estranhas”.

“De um modo geral” é sinônimo de “geralmente”, adjunto adverbial de modo, por isso vai vírgula.

Use a vírgula para separar orações independentes

Orações independentes são aquelas que têm sentido, mesmo estando fora do texto. Nós já vimos um tipo dessas, que são as orações coordenadas assindéticas, mas também há outros casos. Vamos ver os exemplos:

“Acendeu um cigarro, cruzou as pernas, estalou as unhas, demorou o olhar em Mana Maria” (A. de Alcântara Machado)

Nesse exemplo, cada vírgula separa uma oração independente. Elas são coordenadas assindéticas.

  • “Eu gosto muito de chocolate, mas não posso comer para não engordar”.
  • “Eu gosto muito de chocolate, porém não posso comer para não engordar”.
  • “Eu gosto muito de chocolate, contudo não posso comer para não engordar”.
  • “Eu gosto muito de chocolate, no entanto não posso comer para não engordar”.
  • “Eu gosto muito de chocolate, entretanto não posso comer para não engordar”.
  • “Eu gosto muito de chocolate, todavia não posso comer para não engordar”.

Antes de todas essas palavras aí, chamadas de conjunções adversativas, vai vírgula. Pra quem gosta de saber os nomes, elas se chamam orações coordenadas sindéticas adversativas.

Quando se usa vírgula antes de “e”?

Vimos aí em cima que, como regra geral, não se usa vírgula antes de “e”. Tem só um caso em que vai vírgula, que é quando a frase depois do “e” fala de uma pessoa, coisa, ou objeto (sujeito) diferente da que vem antes dele. Assim:

“O sol já ia fraco, e a tarde era amena” (Graça Aranha)

Note que a primeira frase fala do sol, enquanto a segunda fala da tarde. Os sujeitos são diferentes. Portanto, usamos vírgula. Outro exemplo:

“A mulher morreu, e cada um dos filhos procurou o seu destino” (F. Namora)

Mesmo caso, a primeira oração diz respeito à mulher, a segunda aos filhos.

Existem casos em que a vírgula é opcional?

Existe um caso. Lembra do item 3, aí em cima? Se a expressão de tempo, modo, lugar etc. não for uma expressão, mas sim uma palavra só, então a vírgula é facultativa. Vai depender do sentido, do ritmo, da velocidade que você quer dar para a frase. Exemplos:

  • “Depois vamos sair para jantar”.
  • “Depois, vamos sair para jantar”.
  • “Geralmente gosto de almoçar no shopping”.
  • “Geralmente, gosto de almoçar no shopping”.
  • “Semana passada, todos vieram jantar aqui em casa”.
  • “Semana passada todos vieram jantar aqui em casa”.

Note que esse último é o mesmo exemplo do item 3. Vê como sem a vírgula a frase também fica correta? Mesmo não sendo apenas uma palavra, dificilmente algum professor dará errado se você omitir a vírgula.

Não se usa a vírgula!

Com as regras acima, pode ter certeza de que você vai acertar 99% dos casos em que precisará da vírgula. Um erro muito comum é separ sujeito e predicado com vírgula.

Jeito errado:

  • “João, gosta de comer batatas”.
  • “Alice, Maria e Luíza, querem ir para a escola amanhã”.

Jeito certo:

  • “João gosta de comer batatas”.
  • “Alice, Maria e Luíza querem ir para a escola amanhã”.

Reforçando o uso da vírgula

Intercalações

Usa-se vírgula para marcar a intercalação:

a) Do adjunto adverbial – ex: “Saiu, naquela manhã, para assumir o novo posto”.
b) Da conjunção – ex: “Sabia, todavia, que não poderia mais retornar”.
c) Dos termos explicativos ou corretivos – ex: “Ele era um homem dedicado, isto é, não faltava nunca”.

Inversões

Usa-se vírgula para marcar a inversão:

a) Do adjunto adverbial – ex: “Pela manhã, ele saiu para comprar pão”.
b) Dos objetos pleonásticos antepostos – ex: “Às crianças, toda atenção lhes deve ser dada”.
c) Do nome do lugar antes da data – ex: “Brasília, 25 de janeiro de 2015”.

Termos coordenados

Usa-se vírgula para separar termos coordenados em uma enumeração.

Exemplo: “Foi à feira comprar feijão, laranja, carne e verduras”.

Elipse verbal

Usa-se vírgula para marcar a elipse verbal. A elipse é usada para evitar a repetição de palavras.

Exemplo: “Joana foi ao cinema e Maria, ao teatro”.

Aposto

Usa-se vírgula para separar o aposto. O aposto é um termo que explica, delimita ou especifica um substantivo.

Exemplo: “Dom Pedro I, imperador do Brasil, teve um papel histórico importante”.

Vocativo

Usa-se a vírgula para separar o vocativo. O vocativo é utilizado para fazer um chamamento ou interpelação.

Exemplo: “Ó meu Deus, não entendo por que encontro tantas dificuldades em minha vida”.

Para utilizar bem a vírgula, é importante conhecer bem a ordem direta:

Sujeito + Verbo + Complemento Verbal
Sujeito + Verbo de Ligação + Predicativo

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