O Pomerano (Pommersch, Pommerschplatt ou Pommeranisch) é uma variedade do baixo-alemão falada pelos pomeranos e descendentes em várias regiões do Brasil, especialmente nos estados meridionais e no estado do Espírito Santo. O nome Pomerânia vem do eslavo po more, que significa Terra junto ao Mar.

Família: Indo-europeia > Germânica > Germânica ocidental > Pomerano
Língua oficial de: Santa Maria de Jetibá (Espírito Santo, Brasil)

Quase extinta na Pomerânia histórica, sendo praticamente falada apenas no Brasil, atualmente a língua pomerana já tem uma escrita, dada pelo linguista Ismael Tressmann, e nos municípios mais pomeranos do estado do Espírito Santo já existem aulas de língua pomerana, por meio do Programa de Educação Escolar Pomerana (PROEPO).

O pomerano difere do alemão-padrão, uma vez que ambas as línguas têm origens distintas. O pomerano assemelha-se mais ao holandês e saxão antigo.

O Pomerano pertencente ao grupo de idiomas falados na região do Mar Báltico. Nesse grupo linguístico também estão o vestfaliano, o menonita e o holandês. O inglês, língua anglo-saxônica, também é aparentado com o pomerano. As variedades linguísticas do Pomerano que tiveram maior presença no Espírito Santo foram as provenientes da Pomerânia Oriental. O alemão-padrão, por sua vez, pertence a outro grupo de línguas, o alto-alemão.

Um pouco de história

A Alemanha, enquanto Estado-nacional, apenas se unificou em 1871, portanto o alemão-padrão hoje existente era, até o século XIX, uma língua literária, usada por Martinho Lutero na sua famosa tradução da Bíblia. O povo alemão, no seu dia a dia, não usava o alemão-padrão para se comunicar, mas diversos dialetos regionais.

Com a imigração alemã no Brasil, no decorrer dos últimos dois séculos, os dialetos alemães também vieram a se estabelecer como uma língua regional. Enquanto na Alemanha o alemão-padrão serviu para os falantes de diferentes dialetos poderem se comunicar, no Brasil, devido à ainda incipiente consolidação do alemão-padrão aquando do início da imigração, esse papel foi desempenhado por um dialeto, o hunsrückisch, falado no oeste da Alemanha.

Todavia, em algumas localidades brasileiras, outros falares germânicos predominaram. Nos municípios de Westfália (Rio Grande do Sul) e de Rio Fortuna (Santa Catarina), o dialeto vestfaliano é o usado. Nos municípios de Pomerode (Santa Catarina) e Santa Maria de Jetibá (Espírito Santo), predominou o pomerano.

Os imigrantes alemães no Brasil eram provenientes de diversas partes da Alemanha, porém, no caso particular do estado do Espírito Santo, 63% dos imigrantes alemães eram provenientes da Pomerânia, uma região entre o norte da Alemanha e da Polônia.

Extinção na Alemanha

O baixo-saxão, ao qual o pomerano pertence, foi língua franca, na forma oral e escrita, em toda a região do mar Báltico. No século XIII, um grupo de comerciantes falantes do baixo-saxão formaram uma aliança mercantil conhecida como Liga Hanseática. Sua atuação espalhou-se por várias cidades portuárias da região do Báltico, e o baixo-saxão tornou-se língua internacional. Na época, o baixo-saxão tinha todas as credenciais de língua, inclusive com escrita própria e tradução da Bíblia feita por um colaborador de Martinho Lutero, meio ano antes da divulgação da famosa tradução feita em alemão; porém, com a decadência da Liga Hanseática, no final do século XVI e no início do século XVII, o baixo-saxão passou a ser tratado como um mero dialeto.

Posteriormente, o alemão tornou-se a língua oficial e de prestígio, e os idiomas dos povos saxônicos, como o pomerano, passaram a ser vistos como “línguas do proletariado”, inferiores ao alemão-padrão. Após a Segunda Guerra Mundial, o pomerano tornou-se uma língua moribunda na Europa, e seus falantes foram deixando de usá-lo, em detrimento do idioma alemão.

Depois da derrota alemã na Segunda Guerra Mundial, toda a Pomerânia ficou sob controle militar soviético e a fronteira polonesa-alemã foi deslocada para oeste, de maneira que a Pomerânia ficou dividida na linha Oder-Neisse, entre a Polônia e a zona alemã sob administração soviética — que se tornou mais tarde a república comunista da Alemanha Oriental.

A maior parte da Pomerânia foi anexada pela Polônia após a Segunda Guerra Mundial. A população alemã dos territórios a leste da nova linha de fronteira foi quase completamente expulsa, e a área foi repovoada primariamente com poloneses, russos e ucranianos de ascendência polonesa. Os alemães falantes de pomerano tiveram que se refugiar em outras regiões da Alemanha, onde o pomerano não era falado. Por essa razão, o pomerano está, atualmente, praticamente extinto na Europa.

Leia mais sobre em “Os pomeranos: um povo sem Estado finca suas raízes no Brasil

Situação no Brasil

O pomerano é falado em diversas regiões do Brasil, especialmente nos estados mais meridionais de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, bem como no estado do Espírito Santo. Muitas comunidades alemãs no Brasil surgiram em regiões inóspitas, onde era escassa a presença de falantes de português. Em decorrência, muitas dessas comunidades conseguiram preservar a língua de origem por várias gerações. Esse isolamento linguístico e cultural foi combatido agressivamente pelo governo nacionalista de Getúlio Vargas, por meio da campanha de nacionalização, entre 1938 e 1945.

Nos últimos anos, os governos têm promovido o estudo e a preservação do idioma pomerano. Por meio do Programa de Educação Escolar Pomerana (PROEPO) tem-se buscado incentivar culturalmente os municípios brasileiros que possuem o pomerano como língua co-oficial, ou que tenham muitos falantes dessa língua. O programa visa capacitar professores da rede pública de modo que possam ensinar o idioma pomerano nas escolas locais.

Uma das localidades mais conhecidas do Brasil onde prevalece o bilinguismo pomerano-português é Pomerode, Santa Catarina. Uma das localidades onde se falava o baixo-alemão é Dona Otília, localizada no município de Roque Gonzales, Canguçu, Região das Missões, no noroeste do Rio Grande do Sul. No Espírito Santo, nas cidades de Afonso Cláudio, Pancas, Itarana, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá (onde é língua oficial), Vila Pavão, Domingos Martins e Laranja da Terra o pomerano se tornou a língua corrente por ocasião da chegada dos imigrantes.

Até hoje é a língua materna de muitos habitantes da região, e em vários dos distritos das cidades acima citadas é a língua mais falada. No entanto, por muitos anos, a alfabetização dos pomeranos da região era feita em alemão, e posteriormente em português, por isso uma pequena porção de seus falantes a escreve; em geral, comunicam-se de forma escrita em alemão ou português.

Também foi aprovada em agosto de 2011 a PEC 11/2009, emenda constitucional que inclui no artigo 182 da Constituição Estadual a língua pomerana, junto com a língua alemã, como patrimônios culturais do Espírito Santo. Santa Maria de Jetibá também possui estação de rádio em língua pomerana, a Pommer Rádio.

Santa Maria de Jetibá é uma cidade bilíngue. É uma das poucas comunidades falantes do Pomerano no Brasil, ao lado de Laranja da Terra, de Pomerode, em Santa Catarina, e de cidades do Rio Grande do Sul, como São Lourenço do Sul, Arroio do Padre e Canguçu. A língua conta atualmente com uma proposta de grafia elaborada pelo etnolinguista Ismael Tressmann. A grafia elaborada pelo pesquisador culminou na publicação de um dicionário pomerano/português. Nas escolas municipais de Santa Maria de Jetibá são ofertadas aulas em língua pomerana.

Ensino do Pomerano

Nas cidades de descendentes de pomeranos, seu dialeto não é ensinado na escola. Juntamente com o português, é o alemão padrão que tem um lugar na instituição escolar.

O alemão é ensinado nas escolas a partir da quinta série do ensino fundamental. O português só é praticado no espaço institucional da escola, pois é só lá que ele é praticado, já que a grande maioria dos falantes dessas cidades tem o pomerano como língua materna. Tanto é assim que é necessário que os professores saibam falar alemão, caso contrário haveria algumas dificuldades destes em se comunicar com os alunos da primeira série que ainda não aprenderam o português.

Por outro lado, a obrigatoriedade do ensino de alemão também tem trazido alguns conflitos para alguns migrantes provenientes de outros Estados, principalmente do Paraná, uma vez que os filhos destes não falam alemão. Isso tem contribuído para certa diluição da cultura alemã nas cidades.

Um ponto que é importante ressaltar é que o domínio dos descendentes de alemães pomeranos tinham do alemão padrão muito tem a ver com a condição econômica dos imigrantes que vieram para o Brasil. A maioria era pobre e, por isso, sem condições de aceder à educação à época da imigração, também pelas dificuldades que a Europa enfrentava em dar acesso à escola. Por isso, o alemão padrão, ensinado nas escolas na Alemanha, não era comum a todos.

Aplicativo para aprender

Se você se interessou em aprender pomerano, saiba que há sites na internet que ensinam um pouco do pomerano, como o site pommerplattdutsch, que ensina a gramática desse dialeto. Além disso, você pode conhecer algumas das palavras básicas em pomerano, estas palavras estão escritas como são faladas, pois não existe uma escrita oficial para o pomerano.

O Aprenda Pomerano é um programa criado pelos professores Hilderson Jacob, Lilia Jonat Stein e Sintia Bausen Küster, integrantes do Ponto de Memória Pomerano “Para Todos” e está disponível para download gratuito no Google Play.


Fonte: Wikipedia e ELB (Enciclopédia das Línguas Brasileiras)

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