Aposto que você já perdeu tempo tentando explicar para algum gringo que a palavra “saudade” só existe em português. Bom, a primeira notícia ruim do dia é que não, os lusófonos não são os únicos donos da saudade — a palavra também faz parte do vocabulário dos 4 milhões de habitantes da Galícia (que falam o galego).

A segunda notícia — esta não é ruim — é que a maioria dos idiomas tem suas “saudades”, ou seja, palavras que dão trabalho aos tradutores. Normalmente, é preciso frases inteiras para explicar o sentido dessas palavras. Resolvemos usar parágrafos.

Тоска (tós-ca) — russo

Começamos nossa lista com uma palavra baixo-astral muito popular na Rússia. Para o Google Tradutor, toska significa apenas depressão. Mas, do mesmo jeito que você entende que “sentir saudades” é diferente de “sentir falta”, os russos sabem que não é bem assim.

Toska é uma sensação de angústia espiritual. É aquela agonia sem motivo que esperamos que você nunca tenha sentido. Pode ser leve, como uma sensação parecida com o tédio, ou mais profunda e aguda, como uma “dor na alma”.

Inclusive, já falamos sobre 10 palavras russas que não existem em outras línguas.

Lítost (li-tóst) — tcheco

Lítost é algo entre o remorso, o pesar e a compaixão. É uma dor profunda que você sente diante de sua própria mediocridade ou falta de habilidade. É quase um tormento da alma. O escritor tcheco Milan Kundera já tentou explicar o significado da expressão em “O livro do riso e do esquecimento”. E disse ainda que não consegue imaginar como outros povos conseguem compreender a alma sem entender o verdadeiro sentido de lítost.

Em português, o mais próximo que se chega disso é a famosa “dó”. Também existe um adjetivo derivado da palavra –lítostivý, que significa”pessoa que se emociona muito, não aguenta crítica leve e leva tudo para o lado pessoal”.

L’esprit d’escalier — francês

Neste caso, a expressão não é intraduzível. Literalmente significa “o espírito da escada” ou “presença de espírito”. Mas o que significa isso ou o que será que os franceses querem dizer?

Na verdade, l’esprit d’escalier é aquilo que você provavelmente já sentiu depois de sair de uma discussão. Algo como “putz, mas bem que eu podia ter disparado aquele argumento infalível. Agora, já era!”. O nome deste sentimento foi cunhado pelo filósofo Denis Diderot no século XVIII e a ideia também aparece nos idiomas iídiche (trepverter) e inglês (que pegam a expressão alemã Treppenwitz emprestada).

Tartle (tár-dol) — Escocês

Você está numa balada com um amigo. Entre um drinque e outro, uma velha conhecida sua se aproxima e você se sente na obrigação de apresentar os dois. O problema é que você não lembra exatamente se o nome dela é Beatriz ou Gabriela e está sem jeito de perguntar. Você sente um calafrio e fica muito constrangido, agora que terá que falar o nome da moça, arriscando errar e passar vexame. Ok, o sentimento pode não ser tão exagerado assim. Mas ele tem nome: tartle.

Hygge (rí-gue) — dinamarquês

Você já foi à Dinamarca ou conhece bem a cultura dinamarquesa? Por lá, hygge é um estilo de vida. Pelo menos é este o nome que eles dão para a alegria de viver, o aconchego da companhia dos amigos, com quem se compartilha bons momentos. Bonito, né?

Resumindo: hygge é a completa ausência de preocupação e aborrecimentos e a fartura de coisas alegres, agradáveis e simples. No Brasil, não é difícil imaginar situações parecidas, seja na época do Carnaval, seja no happy hour de sexta-feira.

Ilunga — banto

Existem pelo menos 200 idiomas — mas um pouco parecidos — falados por centenas de povos espalhados pela África. São as línguas bantas. No vocabulário desses idiomas, há muitas palavras de tradução complicada. Mas poucas são tão difíceis de explicar quanto esta. Ilunga é uma pessoa que consegue perdoar alguém que lhe fez mal uma vez. Da segunda vez, até tolera. Mas, para os ilunga, três vacilos é demais. Simplificando, ser ilunga é ser tolerante até certo ponto.

Mamihlapinatapai — yagan

Yagan era um idioma indígena falado por povos de Tierra Del Fuego, um arquipélago isolado que fica ao sul da América do Sul. Com o passar do tempo, o número de falantes nativos do idioma foi reduzindo até chegar à marca atual: um. Cristina Calderón é a única representante viva dos povos da Tierra Del Fuego e, provavelmente, a única que pode explicar com propriedade omamihlapinatapai.

Tentaremos: é o olhar trocado por duas pessoas quando uma delas deseja que a outra tome iniciativa para fazer algo que ambas querem, mas que estão relutantes em fazer. Você pode não ser um yagan, mas, se já teve paixões adolescentes, sabe muito bem que “olhar” é este.

Waldeinssamkeit – alemão

A palavra “Waldeinsamkeit” é um termo alemão que se traduz literalmente para “solidão na floresta”. É uma palavra composta por duas partes: “Wald” que significa “floresta” e “Einsamkeit” que significa “solidão” ou “isolamento”. Mas seu significado prático é “medo de ficar perdido sozinho numa floresta”.

Cualacino – italiano

Em italiano, é a marca d’água que fica na mesa quando colocamos um como gelado sobre ela. Ou seja, refere-se ao anel de condensação ou marca deixada em uma superfície quando um copo ou outro objeto frio é colocado sobre ela e causa a condensação de vapor de água no ar.

Iktsuarpok – inuíte

“Iktsuarpok” é uma palavra inuíte, uma língua nativa falada pelos Inuits, povos indígenas que habitam regiões do Ártico, como o Canadá, Groenlândia e partes da Rússia e do Alasca.

Iktsuarpok descreve a sensação de ansiedade e impaciência que surge quando alguém está esperando por alguém ou algo importante. É o sentimento que você tem quando está esperando ansiosamente por alguém chegar, e você fica olhando para fora ou verificando constantemente se a pessoa está chegando. É aquela sensação de “olhar para a porta ansiosamente esperando um convidado chegar”.

Essa palavra é interessante porque reflete a realidade da vida nas comunidades inuítes, onde as condições climáticas podem ser extremas e a espera por pessoas ou suprimentos pode ser uma questão de sobrevivência. A língua inuíte tem várias palavras que descrevem emoções e situações específicas que são únicas para sua cultura e ambiente.

Komorebi – japonês

Palavra japonesa para o “efeito da luz do sol transpassando as folhas das árvores”.

“Komorebi” é uma palavra japonesa que descreve o efeito de luz filtrada através das folhas das árvores ou da vegetação. É uma combinação de dois kanjis (ideogramas japoneses): “木” (ki) que significa “árvore” e “漏れ” (more) que significa “vazar” ou “vazar através”. Portanto, “komorebi” é a luz do sol que penetra pelas folhas das árvores e cria padrões de sombra no chão ou em outras superfícies.

Pochemuchka – russo

Em russo, refere-se às pessoas que fazem perguntas demais.

“Pochemuchka” é uma palavra russa que descreve uma pessoa que faz muitas perguntas, especialmente de forma insistente ou incessante. Essa palavra é frequentemente usada para se referir a crianças curiosas e questionadoras, mas também pode ser aplicada a adultos que têm o hábito de fazer muitas perguntas ou que são particularmente curiosos sobre diversos assuntos.

A palavra “pochemuchka” deriva da palavra russa “pochemu” (почему), que significa “por quê”. Portanto, a palavra sugere alguém que está sempre perguntando “por quê?” sobre tudo o que acontece ao seu redor.

Sobremesa – espanhol

Ainda que a definição padrão e mais comum de “sobremesa” em espanhol esteja relacionada à comida, assim como “postre”: a última parte de uma refeição, que consiste em doces, frutas ou outras guloseimas servidas após o prato principal. Em alguns países de língua espanhola, a palavra “sobremesa” também pode ser usada informalmente para se referir à conversa que acontece após a refeição

Jayus – indonésio

No idioma da Indonésia é o sentimento de vergonha alheia ao ouvir uma piada ruim.

“Jayus” é uma palavra indonésia que se refere a uma piada ou a um gracejo tão mal contado ou tão sem graça que faz com que a pessoa que o ouça não consiga evitar rir. É uma situação em que a piada é tão ruim que se torna engraçada.

Pana po’o – língua havaiana

“Pana po’o” é uma expressão havaiana que significa “tocar a cabeça” ou “coçar a cabeça quando não se consegue lembrar de algo”. A palavra “pana” significa “toque” ou “bater” e “po’o” significa “cabeça”. Juntas, formam a expressão que se refere a tocar ou bater na cabeça de alguém.

É importante notar que, na cultura havaiana, tocar a cabeça de alguém é considerado desrespeitoso e invasivo. A cabeça é vista como uma parte sagrada do corpo, onde a alma e a mente residem. Portanto, “pana po’o” é uma ação que deve ser evitada para não ofender ou desrespeitar alguém da cultura havaiana. É uma tradição cultural que requer sensibilidade e respeito.

Dépaysement – francês

Palavra francesa para aquela sensação que as pessoas têm quado estão longo de eu país de origem.

É um termo usado para descrever a sensação de estar em um ambiente diferente daquele ao qual estamos acostumados, como estar em um lugar estrangeiro ou desconhecido.

“Dépaysement” engloba a experiência de sentir-se fora de lugar, imerso em uma cultura, ambiente ou paisagem que é novo e desconhecido para a pessoa. É uma sensação de desorientação e fascínio diante das diferenças culturais, arquitetônicas, geográficas e sociais do local que se está visitando.

Goya – urdu

Palavra do idioma Urdo, refere-se a quando se ouve uma história tão boa que se torna difícil de acreditar.

Mångata – sueco

“Mångata” é uma palavra sueca que descreve o reflexo da lua na água, mais especificamente, a faixa brilhante e prateada que se forma quando a luz da lua é refletida em uma superfície de água, como um lago, rio ou oceano, o “reflexo redondo da lua sobre a água”.

Essa palavra é um termo poético e evocativo que é frequentemente usado em contextos literários ou artísticos para descrever cenas românticas ou serenas da lua brilhando sobre as águas. A imagem da “mångata” é considerada bela e inspiradora, e é frequentemente mencionada na poesia e na literatura sueca.

A palavra “mångata” é formada pela combinação das palavras “mån” (lua) e “gata” (rua ou caminho), que juntas significam “caminho da lua”. Essa metáfora poética é usada para descrever a trilha de luz prateada que a lua parece traçar sobre a água durante a noite, criando uma cena encantadora e mágica.

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