Se você não sabe, a interjeição de despedida mais usada no português brasileiro, “tchau”, veio do italiano “ciao” — uma palavra ambivalente que, em sua língua original, pode ser empregada tanto com o sentido de “olá” quanto com o de “adeus”.

De 1880 a 1930 tivemos o período mais intenso de imigração italiana no Brasil. Foi nesse momento que começamos a usar a interjeição “tchau”, do “ciao” lombardo e do “ciau” piemontês, saudação informal tanto para o início de um encontro como para a despedida. Ou seja, “tchau” equivaleria a um “olá” de quem chega e a um “adeus” de quem se vai.

Consta que essa importação se deu no início do século XX, com possível influência da forma “chau” também usada no espanhol sul-americano: a grafia aportuguesada “tchau” data de algum momento em torno de 1925, segundo o Houaiss — que, curiosamente, contrariando seus padrões, não fornece a fonte dessa informação.

Se é famoso o parentesco de tchau com “ciao”, muito menos conhecida — na verdade, praticamente secreta — é a relação direta que existe no italiano entre as palavras “ciao” e “schiavo”, isto é, tchau e escravo. Ciao é uma variação dialetal de “schiavo” surgida no Norte da Itália.

Ciao! Ciao!

Esta saudação italiana é abreviação de schiavo (“escravo”), que provém de sclavus (latim medieval). Um hábito europeu muito antigo era o de cumprimentar alguém, dizendo: “seu obediente servo”, ou “seu escravo”. Um gesto de cortesia hiperbólica equivalente à nossa fórmula “seu criado”. A pessoa se apresenta a outra, inclina de leve a cabeça, talvez, e diz: “Sou Henrique, seu criado”.

A palavra schiavo não é mais nem menos semanticamente pesada do que o português escravo e o inglês slave, entre outros termos da mesma família que se espalharam pelas línguas ocidentais. Todos derivam, naquilo que uma sensibilidade contemporânea classificaria como o mais alto grau da incorreção política, do latim medieval slavus, sclavus. Trata-se da mesma origem do termo eslavo, nome genérico dos habitantes da Europa Central e oriental que os povos germânicos escravizaram maciçamente na Idade Média.

Servus!

A expressão “Servus!”, como cumprimento, pode ser encontrada até hoje em regiões da Áustria, Alemanha, Eslovênia e outras da Europa Central. Atualmente, o nosso “tchau” perdeu até mesmo a sombra deste significado. Não é mais uma forma polida de colocar-se à disposição para ajudar o outro. Tornou-se um cumprimento de despedida exclusivamente. Podendo, no diminutivo, “tchauzinho”, indicar um aceno sem maiores compromissos.

O que à primeira vista não faz o menor sentido é, na verdade, de solução simples: ciao é o produto final de uma série de abreviações efetuadas na expressão de cortesia sono suo schiavo (“sou seu escravo”), equivalente à nossa fórmula “sou seu criado”.


Fonte: Blog Palavras e Origens

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