Fula, tuaregue, bamum, khowar: você já ouviu falar em alguma dessas línguas? São todas línguas indígenas, e existem mais de 2.680 em todo o mundo. Novo recurso permite ouvir frases, saudações e até músicas gravadas por falantes nativos.
Das cerca de 7000 línguas faladas em todo o mundo, 2680 línguas indígenas — mais de um terço das línguas do mundo — correm o risco de desaparecer. As Nações Unidas elegeram 2019 como o Ano Internacional das Línguas Indígenas para aumentar a conscientização sobre essas culturas, para que sejam mais conhecidas e pela sua contribuição para a diversidade global.
Para ajudar a preservá-las, o Google Earth lançou um novo recurso Celebrando Idiomas Indígenas, que compartilha gravações de áudio de mais de 50 falantes nativos. A plataforma permite clicar em um mapa e ouvir saudações, músicas, palavras ou frases no idioma nativo do lugar selecionado.
O projeto teve a ajuda de educadores que falam essas línguas — entre eles, Tania Haerekitera Tapueluelu Wolfgramm, que pertence aos povos Māori e Tongan. “É um direito humano poder falar sua própria língua” afirma Tania.
“Centenas de idiomas estão a poucos dias de nunca mais serem falados ou ouvidos”, continuo. “Colocando as línguas indígenas no cenário global, reivindicamos nosso direito de falar sobre nossas vidas, com nossas próprias palavras. Isso significa tudo para nós”, conclui Tania.
Brian Thom, professor da Universidade de Victoria, no Canadá, também ajudou na iniciativa, mapeando terras indígenas junto às comunidades locais de seu país. Ele pediu a Yutustanaat Mandy Jones, membro da comunidade indígena canadense Snuneymuxw First Nation, que gravasse seu idioma nativo, o hul’q’umi’num’.
Ao usar seus idiomas — e compartilhá-los com o resto do mundo — os povos indígenas criam conexões mais estreitas com uma cultura que muitas vezes está ameaçada ou prestes a desaparecer completamente.
Outro participante nas gravações foi Wikuki Kingi, que gravou cânticos tradicionais em Te Reo Māori, uma língua da Polinésia Oriental nativa da Nova Zelândia. “Falar Te Reo Maori me conecta com meus parentes, com a terra, os rios e o oceano, e pode me levar a outro tempo e lugar”, disse.
Garantir que outras gerações ouvirão suas línguas
“Eu faço isso não por mim, mas por meus filhos e netos, para que no futuro eles possam ouvir nossa língua”, diz Dolores, uma das participantes que gravou em sua terra natal, Plains Cree.
Para garantir que as futuras gerações ouçam e falem línguas indígenas, é preciso fazer mais para apoiar sua revitalização. Tania Wolfgramm sugere verificar como sua organização sem fins lucrativos, Global Reach Initiative e Development Pacific, usa a tecnologia para conectar povos indígenas remotos a suas comunidades tradicionais, como levar o Google Street View à remota ilha de Tonga.
Um vídeo da Universidade de Victoria sugere cinco maneiras de apoiar a revitalização da língua indígena, como aprender palavras e frases usando aplicativos de smartphones e aprender os nomes de rios, montanhas e cidades na língua indígena local.
Apesar de existirem quase 200 línguas indígenas no Brasil, apenas uma delas aparece na plataforma: o idioma Sanöma, da família linguística do Yanomami. Ele é usado por 6 mil pessoas no Brasil e na Venezuela.
Se você curtiu a proposta, fique de olho: é possível preencher um formulário para se candidatar a gravar áudios para a próxima versão do projeto do Google Earth. Quem sabe assim o Brasil não é mais representado?
Original: Indigenous speakers share their languages on Google Earth (em inglês)