O símbolo @ (arroba, em português) passou a fazer parte do cotidiano de todos nós desde que foi incorporado aos endereços de e-mail em 1971 pelo programador americano Ray Tomlinson (1941-2016).
Adotado em inglês com o nome de at (“em”, em tradução literal), o símbolo ganhou diferentes significados em outros idiomas. O verbete do @ na Wikipedia lista seu nome em mais de 50 idiomas – a maioria deles interpretações engraçadas de seu formato, relacionando-o à anatomia animal.
Os armênios o chamam de shnik, ou “filhote de cão/cachorro”. Em bielorrusso é chamado de сьлімак (“hélice” ou “caracol”). Em Taiwan, o termo é xiao laoshu (“pequeno camundongo”), enquanto na China continental diz-se quan ei (literalmente “um ‘A’ dentro de um círculo”). Já os dinamarqueses se referem ao símbolo como snabela (“um ‘A’ feito com a tromba de um elefante”).
Em holandês chama-se apenstaartje (“caudinha de macaco”). Em macedônio é chamado мајмунче (macaco). Já em polonês é chamado simplesmente de małpa (macaco), às vezes também małpka (macaquinho). Em romeno é chamado coloquialmente coadă de maimuţă (cauda de macaco). No russo é mais comumente sobaka (собака) (“cão”). O nome de “cão” veio de computadores Soviética DVK onde o símbolo tinha uma cauda curta e semelhança com um cão.
Em sueco é chamado snabel-a (tromba de elefante), e por vezes kanelbulle (rolo de canela), kringla (rosca), elefantöra (orelha de elefante) e até kattfot (pata de gato). Em alemão suíço é comumente chamado Affenschwanz (“cauda de macaco”). E no galês às vezes é conhecido como um malwen ou malwoden (um caracol).
Na língua húngara, o nome é bem mais simples: kukac (“verme”, “larva”). Na Itália, trata-se da chiocciola (caracol). Os cazaques enxergam no símbolo uma aайқұлақ (orelha da Lua), enquanto os alemães o veem como um klammeraffe (macaco-aranha) e os gregos dizem papaki (παπάκι) (pequeno pato, “patinho), devido à semelhança que tem com desenhos de personagens de quadrinhos para os patos.
Há termos distantes do reino animal. Em bósnio, o símbolo se chama ludo A (“um ‘A’ maluco”), na Eslováquia trata-se de um zavinac (“rolinho de peixe em conserva”) e, em turco, um guzel A (“um ‘A’ bonito”).
Até mesmo em Código Morse existe um sinal para @ – o único símbolo acrescentado à linguagem codificada desde a Primeira Guerra Mundial.
Do século XVI para as redes sociais
O blog Shady Characters, de Keith Houston, conta em detalhes como, em 1971, um engenheiro de computação americano de 29 anos chamado Ray Tomlinson criou um emblema reconhecido no mundo inteiro quando decidiu tornar o obscuro símbolo da arroba o sustentáculo de um novo sistema de trocas de mensagens eletrônicas.
Foi uma boa escolha de Tomlinson, já que @ era praticamente desprezado na informática. E foi também uma maneira intuitiva de mandar um e-mail para outra pessoa localizada “em” um certo domínio. O e-mail em si já existia antes da invenção de Tomlinson, mas apenas como ferramenta de comunicação entre usuários logados no mesmo sistema.
Antes disso, em inglês, o símbolo era usado para indicar preços de mercadorias – vender 20 pãezinhos a 10 centavos cada poderia ser escrito como “20 pães @ 10c”.
Mas, segundo Houston, a marca foi vista pela primeira vez em uma carta enviada em maio de 1536 por um mercador de Florença chamado Francisco Lapi, que a utilizou para descrever o preço de um vinho, com o significado de “a uma taxa de”. Não é de se estranhar que, no português e no espanhol modernos, @ seja a arroba, uma unidade de peso.
Todos esses exemplos estão bem distantes do e-mail e dos usos que o símbolo tem hoje. Mas é um prazer ver esse caractere no teclado: um pedaço do antigo Mediterrâneo instalado na modernidade que é o principal facilitador da comunicação contemporânea.