Uma especialista em linguística fala sobre as línguas mais fáceis de aprender para quem já domina o inglês, e compartilha dicas para quem deseja aprender um novo idioma.

Não importa se você está se preparando para uma viagem ou simplesmente se esforçando para estimular o seu cérebro, tentar aprender uma nova língua é sempre uma tarefa nobre. Mas isso não significa que seja fácil. Recorremos a Hannah McElgunn, uma linguista canadense atuante na Universidade de Chicago, para obter informações privilegiadas sobre o que alguém que já fale inglês deve ter em mente ao escolher um novo idioma para iniciar seus estudos.

“Existem duas maneiras pelas quais as línguas se relacionam”, explica McElgunn. “Uma é pela relação genealógica, quando línguas descendem de uma língua em comum. Outra é por meio do contato ou empréstimo de vocabulário”.

O inglês é uma língua germânica, portanto sua sintaxe (estrutura da frase) e morfologia (como as palavras são formadas e se relacionam entre si) são semelhantes a outras línguas da mesma família, incluindo muitas línguas escandinavas.

Mas enquanto a maior parte do vocabulário inglês é herdado da fala germânica, muitas palavras possuem raízes latinas. As línguas modernas originadas do latim, como o francês e espanhol, são conhecidas como línguas românicas. Muitas dessas línguas compartilham cognatos ou palavras com origem etimológica comum com o inglês. Isso explica por que, por exemplo, “quando você ouve alguém falar em francês, algumas palavras soam como em inglês, muitas palavras são pronunciadas apenas de forma ligeiramente diferente”, diz McElgunn.

Por exemplo, a palavra em inglês “restaurant” que em francês é “restaurant”, em italiano é “ristorante” e em espanhol e português é “restaurante”.

Quais são os idiomas mais semelhantes ao inglês?

As línguas germânicas incluem o alemão, neerlandês (holandês), dinamarquês, norueguês, islandês, sueco e africâner (além do inglês).

As línguas românicas incluem espanhol, português, francês, italiano e romeno, todas originadas do latim.

De acordo com McElgunn, várias línguas dentro das “famílias” acima também estão intimamente relacionadas. “O motivo pelo qual as pessoas que falam francês podem entender algumas palavras em espanhol é porque pertencem à mesma família de idiomas”, observa a linguista. “Da mesma forma, se você já conhece norueguês, provavelmente poderá aprender dinamarquês muito rapidamente”.

Dicas para aprender outros idiomas

Considere os sons do idioma

“Digamos que você domine o inglês e decidiu que quer aprender um idioma que não está relacionado ao inglês de forma alguma”, sugere McElgunn. “Uma coisa que eu consideraria é a fonologia, ou o som da língua. Existe uma gama de sons possíveis que os humanos podem fazer e o inglês ocupa apenas uma pequena parte desse espaço”.

É muito mais difícil falar e entender um idioma com sons que não são usados ​​em inglês (ou na sua língua nativa) pois as distinções entre as palavras não soam claramente pronunciadas para os estudantes iniciantes”, diz McElgunn.

O lituano, por exemplo, tem um alfabeto de 32 letras e 52 fonemas (sons distintos) — muitos dos quais estão fora do intervalo de 26 letras do inglês. O truque, diz McElgunn, é procurar idiomas com consoantes e sons de vogais semelhantes aos usados ​​em inglês. (Dica: observe a lista de línguas germânicas e românicas acima.)

Mantenha a estrutura da frase em mente

McElgunn também observa que, de modo geral, as línguas se dividem em dois grupos. As línguas analíticas dependem principalmente de classes gramaticais como partículas e preposições, bem como a ordem das palavras, para construir frases. Por outro lado, estão as línguas sintéticas, que costumam usar inflexão (mudança de tom), palavras combinadas, ou diferentes formas da mesma palavra para transmitir um significado dentro do contexto ou de uma frase.

Por exemplo, em uma língua sintética como o húngaro, a frase de três palavras “Eu te amo” se traduz em uma única palavra, Szeretlek. Em africâner, uma língua analítica, “Eu te amo”, se traduz em Ek is lief vir jou – ou mais literalmente, “Eu estou amando você”.

“Um idioma que é realmente diferente do inglês pode ter uma frase com dois sujeitos, um objeto e um verbo, mas em apenas uma palavra”, diz McElgunn. “Costuma ser mais difícil para um falante de inglês entender a forma como isso ocorre porque, em inglês, essas palavras seriam todas diferentes”. Como as linguagens analíticas geralmente seguem estruturas de sentenças semelhantes, pode ser mais fácil identificar palavras e seus significados contextuais ao traduzir de uma linguagem analítica para outra.

Ainda assim, é raro encontrar uma língua que seja puramente analítica ou sintética; a maioria dos idiomas tem características de ambos. (O inglês, por exemplo, é uma das línguas indo-europeias mais analíticas, mas ainda é frequentemente classificado como uma língua sintética.)

Línguas transparentes e línguas opacas

Da mesma forma, os idiomas podem ser categorizados de acordo com a forma como são escritos (como transparentes ou opacos). Em línguas transparentes, as letras silenciosas são poucas e espaçadas; você deve pronunciar cada letra de uma palavra conforme ela é escrita. (espanhol, italiano, finlandês e alemão são considerados “idiomas transparentes”.)

Em línguas opacas, a relação entre como uma palavra é escrita e falada é mais complexa. “O francês tem muitas vogais e isso pode ser muito confuso para alguns”, explica McElgunn. “Eau , a palavra francesa para ‘água’, soa como uma vogal ‘o’. Mas, para escrever no plural, é soletrado e-a-u-x“.

Além do francês, inglês, árabe, hebraico e feroês (língua das Ilhas Faroé) são todos considerados idiomas opacos. Português, holandês e sueco ficam em algum lugar no meio de ambas as categorias. Ainda assim, segundo a linguista, essa relação importa principalmente para quem busca dominar um idioma além da proficiência oral.

Lembre-se de que a boca é um músculo

“Todo mundo tem estilos de aprendizagem diferentes, mas acho que a melhor maneira de aprender um idioma é se acostumar a dizer as coisas em voz alta”, aconselha McElgunn. “Se você está apenas lendo e pronunciando palavras em sua cabeça, você não está realmente treinando seus lábios, garganta ou língua — que são apenas músculos — para produzir esses novos sons.”

Pode ser um pouco desconfortável no começo, mas McElgunn recomenda verificar seu trabalho gravando você mesmo e depois reproduzindo o áudio: “Eu não sou alguém que gosta de ouvir minha voz gravada, mas ouvir como você realmente soa versus o que você pensa, você soa como é uma ótima maneira de descobrir no que você precisa trabalhar.”

Por fim, se você deseja abandonar os aplicativos de tradução e mergulhar totalmente em um idioma estrangeiro, certifique-se de ter escolhido seu destino com sabedoria.

Caso tenha oportunidade de ir, viver, passear ou morar em um país estrangeiro, “você pode pensar se vale a pena ir para uma área urbana onde as pessoas podem ter sido expostas a muito inglês em vez de um lugar mais isolado ou rural onde há menos exposição”, diz McElgunn. “Isso apresentará diferentes desafios, obviamente, mas também haverá diferentes oportunidades de aprendizado.”


Original: The Easiest Languages for English Speakers to Learn (em inglês)

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