A expressão “sair à francesa” refere-se ao ato de ir embora de um lugar, especialmente de um evento social, sem se despedir de ninguém. É sinônimo de “sair de mansinho” ou “sair de fininho”, e é frequentemente usada para descrever uma saída discreta, onde a pessoa tenta não ser notada.

Origem da Expressão

A origem da expressão é envolta em incertezas, mas acredita-se que ela tenha raízes que remontam ao século XVIII. Uma das explicações mais citadas sugere que a expressão surgiu como uma crítica aos costumes sociais franceses. Na França, naquela época, despedir-se de todos os presentes em uma reunião era considerado um ato importuno, pois poderia interromper conversas e momentos agradáveis. Assim, a prática de “sair à francesa” — sem aviso ou despedida — se popularizou como uma forma de evitar incomodar os outros.

Outra versão da origem remete à rivalidade histórica entre França e Inglaterra. Os ingleses usaram a expressão “take French leave” (sair à francesa) para descrever soldados que abandonavam seus postos sem aviso. Em resposta, os franceses criaram a expressão “filer à l’anglaise” (sair à inglesa), refletindo uma troca cultural e linguística entre as duas nações.

Algumas versões procuram explicá-la de uma ou outra forma, como, por exemplo, na lembrada por Luis da Câmara Cascudo em Locuções Tradicionais do Brasil (Provérbios Históricos e Locuções Populares, de Francisco Mendes Paiva, edição de 1879), onde é dito que ao considerarmos o fato de que o vocábulo franquia, cujo sentido original é o de imposto de saída, tem a mesma origem de francês, poderemos imaginar que a locução sair à francesa seja uma modificação de sair franco.

Nas palavras do próprio autor, trata-se de “… uma alusão à mercadoria que uma vez franqueada, não se demora para conferências e pagamentos de impostos. Esta etimologia pode razoavelmente ser aplicada à frase proverbial e explicá-la satisfatoriamente”.

Por sua vez, Orlando Neves (1935-2005), poeta e colecionador de frases, natural de Portalegre, Portugal, explica em seu Dicionário das Origens das Frases Feitas, com cerca de 9.000 verbetes colecionados ao longo de muitos anos de pesquisa:

“Nem sempre despedirem-se as pessoas umas das outras, em qualquer reunião, foi considerado cortesia, educação, delicadeza. Em França, no século 18, quem, pretendendo abandonar uma sala repleta de gente, fosse despedir-se dos convivas cometia um ato importuno, ao incomodar pessoas embrenhadas em conversas, passatempos, jogos ou amores agradáveis. Daí que se “saísse à francesa”, isto é, sem cerimônia, sem aviso prévio, sem dar conhecimento a ninguém. O costume generalizou-se por toda a parte, até que, mais tarde, veio a adquirir um sentido oposto, ou seja, de descortesia e falta de educação”.

Deonísio Silva, escritor e professor universitário, explica de forma assemelhada a origem da expressão:

“O significado desta frase é sair de uma festa ou cerimônia sem se despedir. Pode ter origem em costume francês ou na expressão ‘saída franca’, indicando mercadorias sem impostos, que não precisam ser conferidas. Como os franceses primam justamente pela etiqueta, não concordaram com a frase e a mudaram para ‘sair à inglesa’. Alguns pesquisadores situam o surgimento da expressão na época das invasões napoleônicas na Península Ibérica (1810-1812), mas o escritor português Nicolau Tolentino de Almeida (1740-1811), cuja poesia satírica visava aos usos e costumes de Lisboa, registrou-a muito antes nestes versos: Sairemos de improviso/ despedidos à francesa”.

Uma outra explicação sugere que ela tenha surgido durante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), quando França e Inglaterra disputaram o controle comercial e marítimo das colônias das Índias e da América do Norte, e caracterizada pelas sucessivas derrotas francesas na Alemanha, no Canadá (queda de Québec e Montreal) e na Índia. Supõe-se que a frase tenha nascido nessa época, uma espécie de gíria militar cujo alvo eram os soldados que abandonavam seus postos sem qualquer comunicação a seus companheiros ou superiores.

Variações Culturais

Em diferentes culturas, existem expressões semelhantes. Por exemplo, nos Estados Unidos, a expressão “sair à irlandesa” é usada para descrever uma saída furtiva, associada a estereótipos sobre o comportamento dos irlandeses.

Compartilhar