Se em alemão também se usa o trema (¨), por qual razão este tem um som completamente diferente do que estamos acostumados no português? Esses pequenos e divertidos sinais diacríticos possuem uma história e uma razão de ser, veremos as explicações a seguir.

O que é o trema?

Para definir o trema rapidamente, poderíamos dizer que são esses pequenos pontinhos horizontais que, em português, eram inseridos sobre a letra “u”, mais precisamente em sílabas como “gue” e “gui” para demonstrar que a “u” não era muda. O trema (ou diérese) é um diacrítico (do grego διακρητικός, que significa “dividir”, “separar” ou “distinguir”) era utilizado em palavras como: freqüente, lingüiça, seqüestro, agüentar, ambigüidade, pingüim, bilíngüe e conseqüência.

Em português, a letra “u” era a única vogal que recebia a diérese, pois esta não é pronunciada na maioria das palavras onde precedida da letra “g” como guitarra e guidão. Você sabia que o trema também é usada em idiomas como o francês, espanhol, alemão, dinamarquês, catalão, galês, holandês, occitano, galego, luxemburguês e até mesmo no inglês? Veremos com mais atenção o assunto.

Ou seja, o trema é um diacrítico usado em diversas línguas para alterar o som de uma vogal, ou para assinalar a independência dessa vogal em relação a uma vogal anterior, constituindo-se às vezes em uma vogal própria e distinta no alfabeto. O trema ainda existe na língua portuguesa, mas apenas em nomes próprios estrangeiros, marcas e suas derivações, como Bündchen, Müller, etc.

O trema no alemão

Jacob Grimm (sim, exatamente, um dos irmãos Grimm) foi quem introduziu o termo Umlaut ao alemão para se referir ao trema. Seu significado é “alteração de som” e faz referência a “curva” que o som faz quando pronunciado entre duas vogais (que chamamos metafonia). Estes pequenos pontinhos são colocados sobre as letras “a”, “o” e “u” e formam alguns dos fonemas mais difíceis de se pronunciar.

  • “a” + “e” se transforma em “ä”
  • “o” + “e” se transforma em “ö”
  • “u” + “e” se transforma em “ü”

Uma das dificuldades que temos que enfrentar ao estudar alemão é exatamente o Umlaut (a metafonia). Leva-se algum tempo para entender que as letras “ä”, “ö” e “ü” possuem um som dividido entre duas vogais, ainda que sejam considerados sons distintos e incluídas como letras individuais no alfabeto alemão. Comumente a representação do trema se faz adicionando uma “e” a vogal influenciada, como, por exemplo, em Goethe, que nunca se escreve Göthe.

Umlaut é a junção de um (mudança) e laut (som) e foi cunhada para designar o processo metafônico originado na metafonia das vogais a, o e u.

O trema no francês e no grego

Em francês, a palavra tréma (do grego τρῆμα (trēma) significa “orifício” ou “perfurar”) tem o mesmo aspecto, mas um propósito completamente diferente. Nestas duas línguas os ditongos foram evoluindo, originando sons vocálicos simples. Enquanto no alemão significa uma troca de sons e no português para enfatizar a pronúncia de uma letra, no francês se usa para indicar a pronúncia de uma vogal dentro de um dígrafo ou ditongo. Assim, por exemplo, na palavra Noël (Natal), os dois pontinhos estão aí para nos lembrar que não devemos mesclar ambas vogais em apenas um som, mas sim que temos que pronunciar a letras “o” e “e” separadamente.

Outro exemplo é que em ambas as línguas a combinação “ai” lê-se /e/ e não /ai/, o mesmo ocorre com outras combinações. Em palavras com dois sons vocálicos distintos consecutivos, o trema é usado para assinalar esta mesma característica. Assim, temos em francês a palavra maïs (“milho” em português) que se lê /ma.is/; e em grego a palavra “εβραϊκό”, que se lê /evraikó/. (Sem o trema, a junção das letras alfa (α) e iota (ι) em grego ―e “a” e “i” em francês― pronuncia-se /e/).

O trema no inglês

O inglês também conta com algumas palavras com trema; geralmente nomes ou sobrenomes como Zöe e Brontë. Em algumas palavras seu uso é opcional, como, por exemplo, naïve (ingênuo, inocente). A maioria dessas palavras vem de idiomas como o francês e foram responsáveis por enriquecer e ampliar a língua inglesa ao longo da história. Claro, essa influência causou alguma confusão, especialmente na ortografia, mas fato é que alguns jornais como o New York Times optam por não utilizar esses sinais em seus editoriais.

Palavras como façade (fachada), café (local onde serve lanches) e résumé (currículo) mantiveram sua origem, chegaram ao inglês através da influência do francês.

Sons similares em outras línguas

Falamos sobre o uso do trema no alemão, no francês e no grego. E se você ficou se perguntado se esse som existe em outros idiomas, a resposta é sim, e sobre isso que falaremos a seguir.

O trema (ou diérese) na vogal “o” alemã “ö” é comparável a “œ” no francês. Palavras como œvre (trabalho), cœur (coração) ou também œil (olho) possuem o mesmo som que a “ö” alemã (uma boa dica e um grande incentivo no caso de você estar estudando francês ou alemão). A variante alemã da “ö” no dinamarquês e no norueguês é a vogal “ø”. Em alguns textos antigos é possível encontrar a letra “ö” no lugar de “ø” para diferenciar os sons abertos dos fechados. Assim, quase que poderíamos afirmar que a “ø” é uma evolução da letra “oe” como no francês.

No turco ou no sueco, entre outros, este símbolo não é denominado trema, pois não representa o resultado de um processo fonético, sendo parte de letras próprias e independentes no alfabeto.

Porém, o uso do trema como diacrítico está presente em idiomas como o africanês e albanês. O mesmo som germânico se encontra no sueco e no holandês. Estes dois últimos seguiram representando um desafio para os falantes de línguas onde as vogais estão separadas e raramente se misturam, como no português.

Este símbolo é ainda usado em outras línguas, tais como o espanhol (semelhante à utilização no português nas sílabas “gue” e “gui”, como na palavra vergüenza — vergonha).

Lembre-se de não desanimar com o uso do trema e a dificuldade na pronúncia de certas palavras em outras línguas. Se você quer aprender ou já está aprendendo alemão, não se preocupe, às vezes é complicado até para os nativos. Deixe se levar por estes sons raros, mas atrativos, enquanto pratica a pronúncia de palavras como öko (ecológico), ähnlich (similar) e süß (doce).

Não se intimide e repita comigo: Ich würde mich über ähnliche blöde Sachen nicht ärgern lassen!


Original: La diéresis: la historia de esos dos puntitos en otros idiomas (em espanhol)

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