A língua italiana é um conjunto de regras comuns e em constante evolução. Porosa, mutável, flexível, às vezes nervosa, mas muito fascinante de se conhecer e escrever, principalmente quando se conhece e respeita as regras.
Um clássico
Começamos com um clássico: qual è ou qual’è? A resposta correta é SEM o apóstrofo (“qual è”) porque é a supressão da vogal final da palavra “quale”, não sendo uma elisão. Outros casos semelhantes: qual buon vento, buon uomo, nessun dubbio. “Qual’è” escrito desta forma deve ser considerado um erro.
A letra “d” eufônica
As conjunções “e”, “o” e a preposição “a” necessitam da adição do “d” para melhorar a fusão com a palavra seguinte que começa com uma vogal. Mas inserir o “d” eufônico na frente de uma vogal que seja diferente das acima é errado? Existem opiniões divergentes, mas seguindo a regra geral não tem erro: o “d” eufônico é usado entre vogais iguais (ex.: ed ecco, ad altri, ad amici) com algumas exceções (ad esempio).
A pronúncia faz a diferença
No complexo mundo da língua italiana há uma diferença que poucos respeitam: entre o acento grave para a vogal aberta (caffè) e acento agudo para a vogal fechada (perché).
Acento tônico
Quase todas as palavras italianas têm um acento tônico. Graficamente são acentuadas somente aquelas que o acento tônico cai na última letra. (Ex.: Perù , Gesù…) ou palavras monossílabas que poderiam criar confusão (como dà = verbo, “dare” contra da preposição).
Mas toda regra tem suas exceções: o pronome sé necessita o acento para não ser confundido com “e” conjunção, porém se este vem seguido da palavra “stesso” ou “medesimo” perde o acento.
O prazer da retórica
A língua italiana é cheia de figuras de linguagem, artifícios que permitem ao interlocutor de brincar com palavras como o Polissíndeto. Ou seja, a repetição da conjunção para dar especial ênfase à enumeração: Sono andato in spiaggia e in montagna e in campagna (“Eu fui à praia e na montanha e no campo”).
A anadiplose é outra figura de linguagem que permite destacar as palavras-chave e lembrar aos leitores um determinado assunto. Basta repetir uma palavra no final e no início de uma parte do discurso: Io sono stanco, stanco di ripetere le cose (“Estou cansado, cansado de repetir as coisas”).
Toscana
Não pretendemos desvendar nenhum mistério ao explicar que se trata de uma língua- romance. O curioso e não tão conhecido é que o italiano atual procede do dialeto toscano (florentino). Depois da unificação da Itália em 1861, o toscano se impôs já que a região de la Toscana era a que gozava de mais prestígio cultural por ser o idioma no qual se escreveu “A divina comédia” de Dante.
O trava-língua mais difícil
“Trentatre trentini entrarono a Trento, tutti e trentatre trotterellando” (Trinta e três pessoas entraram em Trento, todos os trinta e três troteando). Este popular trava-língua italiano tem a honra de ser o mais complicado do idioma.
Dialetos italianos
A Itália tem inúmeros dialetos: o franco-provençal, o friulano, o sassarés… quase duas dezenas! Muita gente ainda fala os dialetos locais, alguns dos quais são praticamente incompreensíveis para pessoas de outras partes do país.
Ainda que possuam a mesma base derivada do latim, a diferença é tão grande como a que há entre o francês e o português. Por exemplo, em veneziano, “estamos chegando” se traduziria por “sémo drio rivàre”, que é muito distinto do italiano padrão, “stiamo arrivando”.
A padronização do italiano tem sido um processo lento e ainda em andamento. De fato, segundo um estudo recente, 44% dos italianos falam de forma exclusiva o italiano padrão, enquanto 51% alterna este italiano com um dialeto e 5% usa somente o dialeto. Ao redor de Veneza e no sul do país (Sicília e Nápoles) são os locais onde ainda se mantém com mais força o uso dos dialetos.
Substantivos: por que abusar deles?
Agora falamos sobre o abuso dos substantivos. Cancellare se torna cancellazione, distribuire se transforma em distribuzione: por que transformar a agilidade linguística do verbo em algo estático como o substantivo? Um texto simples e eficaz, reduz (mas não elimina) o uso de advérbios e adjetivos, optando por uma comunicação ativa, direcionada para a ação.
Palavras semelhantes, significados distintos
Entre duas línguas há palavras de grafia igual ou semelhante, mas de significado diferente. Isso acontece com certa frequência entre o italiano e o português. São chamados “falsos cognatos”, alguns exemplos:
Burro: “mangio una fetta di pane con burro” (como uma fatia de pão com manteiga). Burro, o animal, em italiano se diz asino. Há um provérbio italiano que diz: Vale più un asino vivo che un dottore morto. (“Vale mais um burro vivo que um doutor morto”) Não confunda, portanto, burro com asino.
Prima: Em língua italiana, “prima” não é parente. Significa “antes” ou “primeira”. O nome de parente, filha dos tios, em italiano se diz cugina.
Derubare: Na língua italiana significa “roubar”, “furtar”, “privar”. O verbo “derrubar” em italiano se diz demolire, far cadere.
Prego: Uma das palavras mais usadas da língua italiana, porque serve em muitos contextos. Por exemplo:
– Em reposta a um agradecimento: Grazie! – Prego! (Obrigado! – por nada!)
– Ao fazer uma proposta, uma oferta, um convite (linguagem formal): “Prego, si accomodi” (Esteja a vontade) – “Prego, assaggi questa torta” (Por favor, prove essa torta) – “Permesso, posso entrare?” – “Prego” (Com licença, posso entrar? – Pois não).
– Ao fazer um pedido de modo gentil: “Prego, potrebbe indicarmi la via per…” (Por favor, pode indicar a rua para…)
– Para expressar de modo gentil que não entendeu (assim como “scusi?”): “Prego? Può ripetere?” –(por favor, pode repetir?) A palavra “prego” do português se diz chiodo, em italiano.
Squisito: Na língua italiana significa delicioso, excelente, refinado. A palavra “esquisito”, em italiano, normalmente se diz strano.
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